Para melhorar a sua vida e a da sua família, José Augusto Silva começou a trabalhar mesmo sem ter idade legal para tal. Assim como ele, muitas outras crianças não iam à escola e trabalhavam para ajudar no sustento das famílias.
Quando vim para Lisboa, vim para a Rua Capitão Leitão, tinha lá família, uma tia, e foi para lá que eu vim viver até ser “entregue” ao Bairro Chinês.
Os primeiros dias não pude ir trabalhar porque não aceitavam pessoas tão jovens nos trabalhos, mas com algum custo conseguiram arranjar-me um trabalhinho numa oficina aqui na Rua José Patrocínio, uma oficina de serralharia, uma fundição, portanto, onde se faziam moldes, onde se faziam portas chaves, onde se faziam muitas coisinhas, por aí assim.
Trabalhei ali durante algum tempo, até arranjar um outro trabalho, estava numa situação de ilegalidade, digo eu, naquela altura, porque às vezes aparecia por lá a polícia e mandavam os jovens, não era só eu, eram muitos jovens que trabalhavam lá, mandavam-nos ir para uma casa escura, para ficarmos ali reservados. A polícia vinha por outra razão qualquer, mas como não se sabia com certeza o que vinham fazer, os patrões diziam para a gente se arrumar. Quando a policia ia embora chamavam a gente de novo e estávamos ali ao trabalho. Muita juventude, muito crianças ainda, a trabalhar. Mais tarde, claro, arranjaram-me um trabalho já a valer, entretanto, tinha 14 anos feitos e já podia descontar para a Caixa. E fui trabalhar para a Fábrica de Borracha Luso-Belga.