Um dia, de Dezembro, Jessica Verheij e eu caminhamos dentro de Marvila para tentar encontrar espaços que pudessem ser considerados vazios. Marvila é uma área em forte transformação, e a interpretação dos seus vazios, ou presumíveis vazios, é fundamental para definir o seu futuro e preservar a sua identidade. Em conjunto, identificámos 10 tipos de vazios. Para cada uma delas tirei uma fotografia e gravei alguns segundos de áudio.
Design, som e fotografias de Francesca Berardi da equipa ROCK ICS-ULisboa
I – Vazio das ruínas – Quinta do Marquês de Abrantes
Em Marvila existem muitas antigas quintas. Em alguns casos – só restam ruínas.
II – Vazios desenhados – Bairro social da Quinta do Marquês de Abrantes
No bairro de habitação municipal à volta da Biblioteca existem espaços públicos abertos com colunas sem nada em cima ou bolas de betão. Parecem decorações, mas na verdade tornam esses espaços inutilizáveis para actividades sociais como jogar.
III – Descampado – Bairro social da Quinta do Marquês de Abrantes
As ruas e palácios de Marvila estão rodeados de terrenos vazios ocupados pela natureza, por espécies botânicas espontâneas e por pequenos animais.
IV – Espaço escondido atrás de muros – Azinhaga dos Alfinetes
Alguns espaços ocupados pela natureza espontânea estão escondidos da vista por barreiras e paredes, como o que vimos em construção.
V – Casas vazias – Santos Lima
A zona da Riberinha de Marvila, Poço do Bispo, está a sofrer há anos um evidente processo de gentrificação que leva alguns residentes de longa data a ser despejados ou a abandonarem a zona.
VI – Vazio de um passado que se sente mas não existe – Rua de Marvila
Um dos aspectos que torna Marvila tão especial é a paisagem, que apresenta sinais claros e evocativos da sua longa história.
VII – Vazios de planos inacabados – Escola Secundária Afonso Domingues
A paisagem de Marvila é também marcada pelos planos para as obras de uma ponte que deveria ligá-la ao outro lado do rio mas que até hoje não foi construída.
VIII – Vazio como espaço da liberdade e ocupação livre – hortas
Muitos dos espaços vazios são de facto ocupados e utilizados de forma livre – mas estruturada – pelos residentes, como é o caso das hortas urbanas.
IX – Vazio de lugares que vão desaparecer – Restaurante Dom Gastão
Parte do processo de gentrificação envolve uma mudança nos estabelecimentos de venda a retalho e de restauração. As antigas tascas e lojas já não podem pagar rendas e são forçadas a fechar.
X – Fábricas fechadas – zona da vila Flamiano
Marvila é um antigo bairro da classe operária em que funcionavam várias fábricas importantes, agora encerradas. Entre elas, fábricas de fósforos, tecidos, sabonetes e armas.