O Sr. Orlando contou-nos que, durante o verão, muitos lisboetas aproveitavam os domingos para frequentar a praia e o campo. Havia a praia da Marabana, junto a Xabregas e a Praia da Cruz Quebrada. A distância para chegar à segunda destas praias era longa mas, no elétrico-carreira nº 15 lá iam para a praia, pela manhã, e aí tomavam um banho. À tarde almoçavam, bebiam vinho e jogavam às carta na mata. Na praia não e viam fatos de banho, os homens arregaçavam as calças e as mulheres as saias. As crianças, essas sim, tomavam banho mas não sozinhas, havia um banheiro, esse sim de fato de banho, que de uma forma bastante brusca as mergulhava à força na água, a pedido dos pais.

 

Ouvi falar sempre numa praia, a minha mãe dizia que era a praia da Marabana. Eu só há pouco tempo é que soube que a praia da Marabana ficava ali junto a Xabregas, entre Xabregas e o Poço do Bispo. Era muito usual  a minha mãe e outras pessoas dizerem, quando a gente estava um bocado repimpados em casa, “Ai parece que estás na praia da Marabana…!”

Nós frequentávamos a praia, íamos para a praia aos domingos no verão, íamos passar o verão na praia da Cruz Quebrada, porque havia o elétrico que saía da Praça do Comércio, que era o elétrico-carreira número 15, em que íamos para a praia da Cruz-Quebrada.

Íamos à praia de manhã tomar o nosso banho e depois íamos para a mata almoçar e estar ali. Os homens passavam a tarde a jogar às cartas, às suecas, iam bebendo vinho “kodak” de 5 litros. Havia duas marcas de vinhos que se vendiam lá muito, que era o Vale d’Or e o Camilo Alves que era o vinho tinto. Também havia branco mas os homens bebiam mais era o vinho tinto.

Quando íamos para a praia os homens não iam de fato de banho, portanto arregaçavam as calças, as mulheres levavam uma saia, arregaçavam um bocadinho. Os homens não tomavam banho, havia um banheiro que, por triste lembrança, tinha uma mão que devia ser duas das minhas, que estava vestido de fato de banho e então as pessoas chegavam ao pé do banheiro e diziam”Olhe, não se importa de dar banho ao meu filho?”, o homem metia-lhe aquela manápula nas ventas da criança, mergulhava-a três vezes. A pessoa quando vinha ao de cima nem achava tempo para respirar, era pum lá para dentro, cinco mergulhos. Era a pior coisa que podiam dar a uma criança, era levar com aquela manápula em cheio no focinho para mergulhar. Portanto, era passado assim o dia na praia da Cruz Quebrada.

 

Orlando Vaz

Fotografia: CML/Videoteca