No dia em que recebeu as chaves da sua casa, no Bairro dos Lóios, em Marvila, e abriu a porta do apartamento, a D. Luísa Manuel dançou pela casa toda, e nunca mais dormiu na pensão do IARN onde vivia há anos. Este apartamente foi-lhe entregue em 1985.  A  nossa entrevistada disse-nos que, na altura, o prédio estava rodeado de hortas e havia até pessoas vender batatas e nabos na imediação usando um burro.

 
Naquela zona ali onde eu vivo só havia a minha casa, o meu prédio, o resto lá atrás era tudo hortas. A gente descia do nosso prédio e íamos comprar hortaliça ali pelas traseiras de nossa casa, onde é que tem o centro de saúde, onde é que tem a creche das crianças e o centro de dia, tudo aquilo era hortas. Eu vi pessoas com burro, com a carroça a puxar, a tirar as coisas, os nabos e a tirar as batatas e mais não sei. A gente via da minha janela, via onde tem aquelas casas todas, só havia aquele bairro a que chamávamos Camboja que são aquelas casas cor-de-rosa, eram as únicas casas que estavam aí , e ali onde é que eu estou havia a minha casa, o meu prédio e o outro prédio mais alto que está ali um bocado em baixo e aquelas casa brancas também já havia lá atrás. De resto ali, não havia mais nada.
 
Excerto da entrevista de Luísa Manuel, realizada em novembro de 2019 na Biblioteca de Marvila
 
Fotografia: CML/Videoteca